Biografia

Quem é Manu Barros?

Ela é Emanuela Barros, mas nem sempre foi assim, pois até mesmo seu nome é resultado de luta. Quando nasceu, em 4 de outubro de 1976, tinha apenas o sobrenome “Oliveira”, de seu avô materno, motivo de orgulho e grande respeito. No entanto, ela queria mais, pois teve uma infância sem o pai e aprendeu desde cedo sobre as dificuldades que o patriarcado impõe para as mulheres que cuidam sozinhas de seus filhos.

Aos 15 anos, foi rebatizada pelo seu pai e, por uma coincidência do destino, o seu sobrenome completo relaciona-se com a sigla OAB (Ordem dos Advogados do Brasil): Emanuela Oliveira Almeida Barros.

Mas antes de qualquer coisa, Emanuela Barros, ou apenas Manu para os amigos, foi uma menina do interior de São Paulo, nasceu em Catanduva, passou os primeiros anos de sua vida em Irapuã e por conta do trabalho de sua mãe, acostumou-se com as mudanças.

“De certa forma essa andança de cidade em cidade me fazia, às vezes, me sentir sem pátria. Mas também era como, ao invés de não ter raízes, eu absorvesse todas elas.”

A luta em Sorocaba

Quando Manu Barros chegou em Sorocaba, tinha acabado de completar 15 anos. E foi na “cidade da Terra Rasgada” que ela realizou seus estudos e consolidou seu trabalho como advogada.

Na tradicional Faculdade de Direito de Sorocaba (FADI), Manu aprendeu que a justiça é o único caminho a ser trilhado e passou a viver o seu grande sonho de fazer a diferença e empreender nas causas que ela acredita, como o bem comum e a defesa dos que mais necessitam.

Na FADI fez amigos, aprofundou sua trajetória dentro do feminismo por meio do movimento estudantil, focou seus estudos nos direitos das mulheres e, assim tornou-se militante das causas sociais.

A trajetória de Manu foi árdua, pois, como mulher sempre teve que fazer muito mais para ter aceitação e respeitabilidade. Por isso, além de cumprir pontualmente com suas funções enquanto advogada, o abraço às causas sociais se relaciona com o próprio juramento que fez em sua formatura como advogada: lutar pelos fracos, pelos oprimidos e por aqueles que têm sede de justiça.

Reconhecimento

Em 2013, Manu recebeu, pela Câmara Municipal de Sorocaba, o Título de Cidadã Sorocabana, um momento muito especial que evidenciou seu longo trabalho e dedicação à cidade que ela escolheu para chamar de sua.

A Câmara Municipal de Sorocaba também lhe concedeu outros títulos: como o Diploma de Mulher Cidadã “Salvadora Lopes” em 2010 e a Medalha Ana Abelha – mulher empreendedora, em 2017.

Pelo Gabinete de Leitura recebeu a Medalha “Pioneira Guyma Baddini”, também em 2017.

A história é feita de mudanças, luta e resistência

Manu é uma mulher de coragem. Além de sua enorme contribuição na defesa da moradia e na luta das mulheres, ela colabora em outras frentes essenciais para Sorocaba, como o Conselho da Floresta Nacional de Ipanema (FLONA), o Comitê Regional de Enfrentamento e Combate ao Tráfico de Pessoas, a Comissão de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes (CEMEVES), Curso de Promotoras Legais Populares (PLP/Sorocaba) e a própria OAB.

A advogada e agora pré-candidata a vereadora em Sorocaba, escreveu muitos artigos, e palestrou sobre Direito e Cidadania em diversos lugares da cidade e da região. Hoje em dia, além da militância, faz parte do PT Sorocaba.

Manu Barros participou, desde 2002, ativamente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Sorocaba, em 2017 foi eleita pelo voto direto das membras como a primeira presidenta do Conselho, um fato histórico pelo CMDM ter 32 anos de existência e ser o mais antigo do Brasil.

No dia 15 de janeiro de 2018, o CMDM, por meio de eleição direta, elegeu suas 20 conselheiras (entre titulares e suplentes) e, entre essas esteve Thara Wells, a primeira mulher trans conselheira de um Conselho Municipal de Direitos da Mulher. Somado a isso, o trabalho de gestão do CMDM tinha como premissa a função de exercer a fiscalização dos órgãos de proteção e defesa da mulher na cidade de Sorocaba.

E assim, tristemente, uma perseguição política de vereadores da base do governo e do próprio prefeito começou, pois essas mulheres conselheiras passaram por uma campanha difamatória para descaracterizar toda a luta e deslegitimar a importância na defesa da mulher, incluindo denúncias falsas e anônimas de conluio e coação.

Na liderança de Manu Barros, o CMDM atuou de forma intensa em todas essas ações, sendo vital para uma sociedade saudável a promoção da igualdade e a luta contra a violência institucional de gênero, o que acabou por despertar a ira de pessoas poderosas que têm medo de mulheres que não fogem à luta.

Se não bastasse todo esse enfrentamento, aconteceu um episódio, no mínimo grotesco, em que uma bala de fúsil foi encontrada em um armário cedido pela própria prefeitura para o CMDM. As mulheres junto de Manu Barros se sentiram ameaçadas e elaboraram um Boletim de Ocorrência para os órgãos competentes. No entanto, nada foi feito…

Em dezembro de 2022, dia de novas eleições no CMDM, como uma estratégia do poder público para ocupar as vagas e pautar as demandas dentro das perspectivas que não contemplam os direitos humanos na sua universalidade, foi instaurado um caos, que atropelou os ritos do Edital e desmantelou toda a estrutura do CMDM.

Mas a história de Manu Barros e de tantas mulheres sorocabanas jamais irá parar. Por isso, mesmo com essas situações de desrespeito e opressão, a vida ensina que sempre é necessário seguir em frente. Dessa forma, Manu Barros continua na luta pelos direitos das mulheres sorocabanas.

Vida pessoal

Manu Barros vive em Sorocaba com o seu marido, Aramar Rodrigues, companheiro de sonhos e lutas. Ela também tem duas filhas, a Helena Barros, também advogada, e a Luísa Barros, que além da dança, pretende estudar Psicologia. As duas nasceram em Sorocaba e já se mostram corajosas e feministas. 

Manu Barros teve sua primeira filha muito nova. Ela estava no último ano da Faculdade de Direito e foi fruto de um relacionamento com um namorado 11 anos mais velho, que veio a ser o seu primeiro marido. Após 7 anos nesse relacionamento difícil, teve coragem para se libertar.

Há um sentimento de gratidão por tudo que Manu viveu até agora. Sua sensibilidade a permite chorar e sorrir inúmeras vezes.

Um de seus momentos mais difíceis foi quando sua filha Helena nasceu fissurada. A cada cirurgia, houve muita privação e dor. Porém, já ocorreram 11 intervenções cirúrgicas e sua filha continua enchendo o coração da mãe de amor, ternura e coragem. A fissura de sua filha removeu de Manu os seus preconceitos, a fez forte e corajosa. 

Essa gratidão é pela vida em si, as oportunidades que teve, mas também pela AFISSORE, a Associação dos Fissurados Lábio Palatais de Sorocaba e Região, que a acolheu tão bem e ainda cuida de sua filha.

Manu é assim: em tudo que faz, em tudo que vive e sente, o mergulho é intenso e verdadeiro. Um exemplo é o próprio trabalho que realizou na AFISSORE, pois foram 20 anos lutando pela causa de inúmeras formas. Hoje a entidade presta auxílio a mais de 400 crianças e seus familiares por mês.

Sua filha Luisa, a mais nova, também chamada de “Mini Manu”, veio em um outro momento da vida, quando ela já tinha se consolidado na sua profissão e nos seus sonhos e projetos em prol da justiça. Assim, foi uma forma de redescobrir a maternidade, suas belezas e espinhos. Manuzinha, como muitas vezes é chamada, é uma menina que também enche o coração de sua mãe de coragem, arte, persistência e ternura.

O Mestrado na UFSCAR

Depois de tanta luta e já um pouco cansada, Manu Barros novamente fez o seu retorno aos livros como forma de curar feridas. Em 2016, passou a frequentar os grupos de estudo da professora Viviane Mendonça sobre Feminismos, Sexualidade e Política da UFSCAR. A troca de ideias e o acolhimento foram importantes para que ela tivesse coragem para encarar o desafio de fazer um Mestrado. Em 2018 ela passou no processo seletivo e agora é Mestre pela UFSCAR. 

Nessa trajetória tão rica, tudo foi possível porque ela não está e não esteve sozinha. De sorriso tímido, mas com voz de quem sabe o que diz, o poder de Manu Barros vem de sua transparência e lealdade àqueles que sonham e realizam ao seu lado.

O direito à Moradia

Foi em 1999 que Manu Barros obteve seu diploma e logo em 2001 foi convidada para trabalhar em uma comissão da Ordem dos Advogados do Brasil da subseção de Sorocaba, que tinha como objetivo dar orientação jurídica para a população carente da cidade. Manu foi presidenta dessa comissão chamada “OAB vai aos bairros” e se sentiu totalmente envolvida pela defesa do Direito de Moradia. Assim, não pensou duas vezes para ingressar no curso de pós-graduação em Direito Constitucional pela UNISO, espaço que a conduziu para uma dissertação sobre “O princípio da função social da propriedade”, concluída em 2005.

De lá para cá, são anos de militância, enfrentamento de preconceitos e a opressão do Estado que vê a propriedade como um bem maior que a moradia. No entanto, Manu é uma mulher de coragem.

“A advocacia não é profissão para covardes e eu ainda estou aqui.”

Os direitos das mulheres

Manu Barros vê o feminismo como uma necessidade e desde quando iniciou sua jornada na advocacia, os Direitos das Mulheres e a luta contra a violência se tornaram pilares de seu discurso em prol do respeito, dignidade e oportunidade para enfrentar as barreiras do patriarcado. 

Da mesma forma que começou cedo na luta pró-moradia, Manu começou a estudar a violência contra a mulher, um tema ainda sem muita repercussão no direito devido à falta de legislação específica e, no entanto, tão urgente na sociedade.

Por ser próxima ao movimento feminista, foi convidada a trabalhar como advogada no Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Sorocaba. O ano era 2002, o Conselho exercia a função do CEREM (Centro de Referência da Mulher) e aquela jovem advogada que a pouco tempo havia se formado, se viu absorta pela problemática da violência doméstica. A dor daquelas mulheres em seus corpos e mentes tão machucados a fez ainda mais militante. Ou seja, o feminismo passou a ser uma necessidade.

Da experiência no Conselho da Mulher, chegou ao CREAS (Centro de Referência de Assistência Social), onde realizou atendimento jurídico-social. De certa forma, um outro mundo lhe foi apresentado, pois as mazelas da sociedade encontram no CREAS a porta de entrada e Manu passou a conviver com as histórias das mulheres violentadas.

Para conseguir lidar com tamanha ferida social, ela recorreu aos livros e foi fazer sua segunda pós-graduação em Prevenção à Violência, na UNIP, em 2010. Nessa época, ela também exercia a função de advogada no CEREM, uma experiência tão importante, necessária e que ainda lhe dá frutos.

“O machismo não tem lado nem cor nem partido. Atinge a todas. Portanto mulheres, sejamos unidas.”

A AFISSORE

Manu Barros foi presidenta da associação que, em parceria com hospitais da região, já colocou o sorriso na boca de mais de mil pessoas!

A Associação dos Fissurados Lábio Palatais de Sorocaba e Região (AFISSORE) é uma entidade de utilidade pública municipal, estadual e federal e realiza aproximadamente 400 atendimentos por mês entre os usuários e seus familiares.

A AFISSORE de Sorocaba foi fundada em 1977, por importantes pessoas que abraçaram a causa de reconstruir sorrisos de crianças nascidas com lábios leporinos. Para Manu Barros, foi o ano em que sua primeira filha nasceu, em 1999, que essa história começou. 

Helena, que precisou da AFISSORE e foi recebida com muito amor e trabalho sério, fez Manu se engajar nesse projeto social tão intenso e acolhedor. Ela foi presidenta da associação que, em parceria com hospitais da região, já colocou o sorriso na boca de mais de mil pessoas!

A Associação dos Fissurados Lábio Palatais de Sorocaba e Região é uma entidade de utilidade pública municipal, estadual e federal e realiza aproximadamente 400 atendimentos por mês entre os usuários e seus familiares.

“Minha filha Helena nasceu fissurada. A cada cirurgia, muita privação e dor. Mas já se foram onze intervenções cirúrgicas e ela sobreviveu a todas elas… a fissura da minha filha removeu de mim os meus preconceitos, ela me fez forte e corajosa.”

LGBTQIA+

Para Manu Barros, a causa LGBT de Sorocaba acompanha o que acontece em todo país. Ou seja, há diversas conquistas que devem ser divulgadas, mas ainda há muito o que fazer para que todos se sintam acolhidos, protegidos e inseridos na sociedade em todas as suas esferas.

Em Sorocaba, em 2009, Emanuela participou como jurada do “Miss Gay Sorocaba”, que aconteceu na extinta boate “Blanco”. No mesmo ano, ela participou de um programa pioneiro em abordar a temática LGBT na cidade e região. Ou seja, quando pouco se falava sobre o assunto, Manu já estava lá compartilhando e se fazendo presente. E foi assim que ela, como advogada da OAB colaborou para a orientações jurídicas em prol dos Direitos Humanos e também das Mulheres Trans.

Em sua gestão como presidenta eleita no Conselho da Mulher de Sorocaba, ocorreu a primeira nomeação de uma mulher trans para conselheira.

"Todos nós temos que apoiar essa causa. Essa causa é minha como mãe. É minha como profissional. O meu escritório de advocacia é um dos primeiros do estado de São Paulo que só emprega mulheres e LGBTQIA+, porque isso é prática!"

O futuro

Quem conhece a Manu Barros sabe que ela não para. Tudo porque ela é fiel a seus ideais para um mundo mais igualitário e, principalmente, para uma Sorocaba melhor para todes. Assim, como pré-candidata a vereadora, trabalhará mais ainda para dar voz a todos aqueles que acreditam na beleza de seus sonhos. Com amor e coragem!